quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Memória de Educação Infantil I


Pelas coisas que consigo lembrar da minha infância e através de outras contadas por familiares,minha infância foi bastante produtiva no que diz respeito a aproveitar as possibilidades dessa época única,que quando estamos vivendo nem imaginamos que passará tão rápido e que sentiremos saudades de muitas coisas vividas,sendo também,como diz Clarice Cohn,a época onde a criança pode ser estimulada a se tornar um ser atuante com papel ativo na constituição de relações sociais.Uma das boas memórias que tenho são das cantorias com meu irmão em nosso quarto,onde fazíamos diversas músicas e também várias apresentações,coitados dos nossos pais e vizinhos que tinham que aguentar a dupla dinâmica.

Outra lembrança das boas é a de brincar na rua com as crianças da vizinhança,onde todos se reuniam para brincar de diversas coisas em apenas uma noite. Jogávamos bola,gude,pique-esconde,fora as conversas que tínhamos sobre assuntos diversos até escutar o grito tão temido: “Fulano,entra pra casa”.A hora da despedida realmente era meio complicada mas o que nos confortava era que no outro dia estaríamos todos juntos brincando de todas as coisas possíveis para uma noite.Em uma certa época nos despedimos também,mas dessa vez das brincadeiras e interações na rua pois era um momento onde a tecnologia estava chegando com força e os jogos eletrônicos estavam tomando conta do cenário e a partir dali cada vez menos interagíamos.

Em relação às memórias ruins da infância,me lembro de uma das que acredito que tenham me marcado até hoje no que diz respeito a estar na presença de muitos olhares voltados pra mim.Certo dia minha mãe me convidou para fazer uma apresentação na escola em que ela trabalha,no caso eu me vestiria de palhaço.Neste mesmo dia houveram outras apresentações,eu era uma delas e após vários dias de ensaio chegou o grande dia da apresentação.Chegada a minha hora,foi aberta a porta e me deparei com várias crianças rindo e apontando pra mim,era óbvio que o objetivo era ser engraçado,mas na minha cabeça não passava que seria tão traumatizante da forma que foi.Essa parte da minha infância me marcou bastante,percebo isso por conta de uma das minhas lembranças do período de alfabetização ser a de chorar em sala lembrando daquele momento onde todos riam e apontavam para mim enquanto a professora que me via em prantos tentava me acalmar perguntando o motivo do choro incontrolável.

Sempre fui visto como a criança quieta e tímida,sempre fui de ficar no meu canto mesmo sem querer ficar nele muitas vezes e isso acabou me fazendo perder muitas oportunidades na vida.Inclusive,para sair dessa condição de pessoa quieta está sendo um processo delicado por conta de muitos “olha só,Saulo que era quieto fazendo isso”.Não estou falando de coisas erradas,mas as coisas mais simples como falar mais que o habitual,já é motivo para me manterem nessa condição.



Desde que nasci,fui crescendo praticamente em um lugar que até hoje passo bastante tempo por lá,na casa de minha avó materna.É um ambiente que vivi muitas coisas e algumas não tem como esquecer,como as vezes em que minha avó me protegia das broncas e surras que minha mãe queria me dar quando eu aprontava.
Com certeza a casa da minha  avó foi um dos ambientes primeiros que entrei em contato com a parte escolar,pois no fundo da casa dela funciona uma escolinha que trabalha com a parte de alfabetização de crianças e muitas pessoas do bairro já foram alfabetizadas pelas mãos dela e de minha mãe.Então meu primeiro contato foi nesse espaço,convivendo com outras crianças que ali estudavam até chegar minha idade de começar a estudar.

Quando comecei a estudar gostava de muitas coisas,mas a parte que não gostava muito era a das datas comemorativas,que na época enfeitavam a gente de diversas formas principalmente no dia do índio onde eu acabava voltando praticamente de cueca pra casa,isso me deixava irritado.Certa vez fiquei feliz por que,acredito eu,era dia do circo e podíamos nos vestir das diversas personalidades que vivem na realidade circense.Lá fui eu vestido de mágico todo alegre,até que uma das professoras resolveu pintar o rosto de todos com a maquiagem tradicional dos palhaços,lembro que fiquei indignado e voltei reclamando o caminho todo até minha casa e minha querida mãe foi me acalmando.

Esse relato foi um pouco das coisas que vivi durante minha infância,onde pude passar por diversas experiências que me fizeram aprender ,até  nos momentos não tão legais,coisas que levo até hoje como lição.Agradeço por ter tido a oportunidade de experimentar minha infância,sendo valorizado enquanto criança e tendo o acompanhamento da minha família nesse processo,diferentemente das crianças que eram consideradas adultos em miniatura e viviam realidades adultas no período da idade média ,como é citado por Philippe Ariès em sua obra "História Social da Criança e da Família".

5 comentários:

  1. Saulo,
    Sua narrativa está linda e implicada. Parabéns! Se você puder articular com as leituras da disciplina de Marilete, penso que potencializará mais.

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  2. Que delícia poder percorrer a tua infância contigo, amigo!! Kohan afirma que a infância impede a repetição do mesmo mundo. Tua trajetória cheia de significados revela a leveza e pureza que sempre foram atribuídas as crianças... Parabéns pela narrativa.

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  3. Que narrativa maravilhosa, Saulo. Estou encantada com a maneira que você descreveu essa linda fase da sua vida. Parabéns!!!

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  4. Que bela narrativa Saulo. Ao ler sua memória de infância pude relacionar alguns aspectos com a minha,enquanto criança que contava as horas pra se reunir com os amigos pra brincar na porta de casa. Que incrível esse misto de emoções que você retrata aqui, pois os mesmos serviram para constituir essa pessoa maravilhosa que es. Parabéns!!

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  5. Linda a sua narrativa menino precioso.
    Encantada com cada detalhe,
    Tudo que vc vivenciou serviu para te transformar nessa pessoa tão nobre e maravilhosa que és, um músico de excelência.

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